Ele vem à Paraíba participar do Congresso Paraibano de Gestão de Trilhas de Longo Curso, em Araruna, e visitar o Parque Nacional Serra do Teixeira.

 O Brasil sedia em novembro próximo a Conferência da ONU para o Clima, a Paraíba tem um Parque Nacional para gerir, tem  o Caminho das Ararunas – a maior trilha de longo curso do Nordeste. A pauta do meio ambiente e da preservação em consonância com o turismo está cada vez mais próxima. O diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Pedro da Cunha e Menezes conversou com o Mais Turismo e Cultura e fala sobre os desafios e conquistas na área. “Talvez nosso maior desafio seja colocar todos os brasileiros na mesma página, em um esforço nacional conjunto e persistente para termos um país ambientalmente mais saudável”. Sobre gestão de áreas protegidas, ele afirma:  “Não há contradição entre conservação e visitação”.  Ele chega esta semana a Paraíba. Confira a entrevista completa concedida a jornalista Rosa Aguiar.

. O Brasil sedia a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em novembro, a COP30. O que vamos mostrar ao mundo em relação a questões climáticas, sustentabilidade, Amazônia, parques ?

–  A COP, primeiramente, é uma negociação internacional entre países. Esta é sua função primordial. Em seu entorno, entretatanto, existe a oportunidade de mostrar ao mundo algumas políticas públicas relevantes para o Brasil, como nosso Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o ARPA, o Plano Clima, as ações de transição energética e de reflorestamento, entre outras. Nesse sentido, vamos, naturalmente, mostrar a Rede Brasileira de Trilhas em todo seu esplendor. Pretendemos inaugurar, às vésperas da COP, a Trilha Amazônia Atlântica cujos 460 km ligam 7 unidades de conservação e 6 terras quilombolas, entre a divisa Maranhão-Pará, e o Parque Estadual do Utinga, no coração de Belém do Pará. Trata-se da primeira Trilha de Longo Curso no bioma e estamos bem orgulhosos dela. https://trilhaamazoniaatlantica.com.br/

.  Quais são os maiores desafios deste Governo na gestão do meio ambiente?

– As questões ambientais extrapolam governos. Elas não têm filiação político partidária. Com efeito, a seca, os desastres naturais, a poluição hídrica, o aquecimento global e a desertificação afetam a esquerda, a direita e os isentões com igual virulência. Nesse sentido, os desafios desse governo são os desafios do Brasil e não desaparecerão após as eleições de 2026. O Brasil ainda tem muito que trilhar para ser um país ambientalmente saudável: precisamos levar o saneamento a 100% dos domicílios, limpar nossa matriz energética, reduzir o desmatamento, frear a perda de biodiversidade, manejar nossos estoques pesqueiros e reduzir a desertificação por meio da restauração ecológica. Trata-se de esforço para algumas décadas. Talvez nosso maior desafio seja colocar todos os brasileiros na mesma página, em um esforço nacional conjunto e persistente para termos uma país ambientalmente mais saudável.

. Desde o fim da pandemia tem aumentado a procura por atividades junto à natureza mas parece que ainda falta segurança nos parques e áreas protegidas O que acha?

– Segundo o Instituto Semeia, em 2023, os parques naturais brasileiros receberam 15,9 milhões de visitas, o que é um aumento de 160% em relação às visitas registradas em 2012. Ou seja, há uma clara tendência de aumento na demanda por recreação em contato com a natureza no Brasil. Para fazer frente a esse incremento, o Brasil tem se organizado de forma coordenada entre as três esferas de governo. Temos atuado em vários campos. No campo jurídico, a equipe da Ministra Marina Silva se coordenou com a Câmara dos Deputados, sob a liderança do deputado Túlio Gadelha, para aprovar o Projeto de Lei 4870/24, que criou a política nacional de visitação de parques ambientais, com previsão de fundo privado para financiar infraestrutura de visitação. Nos estados também temos buscado parceiros nas Assembléias Legislativas, como os deputados estaduais Goura (PR) e Marquito (SC), entre outros parceiros. Também há a implementação de uma política que visa a estruturar a visitação em algumas unidades de conservação por meio da concessão de serviços à iniciativa privada, como o que já acontece nos Parques Nacionais do Iguaçu, Tijuca e Itatiaia, e nos Parques Estaduais de Vila Velha e Cantareira, entre outros. Sem dúvida nenhuma, entretanto, a principal política pública para a segurança do visitante hoje é a Rede Brasileira de Trilhas. As trilhas, afinal, são a ferramenta que mais de 80% dos visitantes usam para visitar nossos parques e reservas. Trilhas bem sinalizadas e manejadas reduzem a quantidade de acidentes e de pessoas perdidas, melhorando a qualidade da recreação em contato com a natureza. Uma trilha bem-sinalizada trás tranquilidade ao visitante.

Em outro plano, o ICMBio, de uns anos para cá, passou a contar com Analistas Ambientais Temporários especialmente dedicados ao uso público, com o respectivo treinamento específico.

Por fim, estamos conversando com os Corpos de Bombeiros estaduais para que eles integrem a Rede Brasileira de Trilhas de forma sinérgica com os gestores de unidades de conservação e a governança de cada trilha. O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, por exemplo, tem um trabalho exemplar de prevenção e de busca e salvamento nos trechos mais desafiadores da Trilha Transmantiqueira, como as Travessias da Serra Fina e Marins-Itaguaré. Ainda este ano, em parceria com os Bombeiros, o Fórum de Lideranças Estaduais do SNUC (FSNUC), o ICMBio, o Semeia, a Abeta e a Rede Brasileira de Trilhas farão um grande seminário para discutir as políticas nacionais de prevenção, de busca, salvamento e resgate para o uso público em unidades de conservação e nas trilhas do Brasil.

. A Paraíba tem o Parque Nacional da Serra do Teixeira, com 61 mil hectares. Como preservar a área e, ao mesmo tempo, torná-la viável economicamente? O senhor vem ao Estado para visitar? Qual o objetivo?

– Não há contradição entre conservação e visitação. A Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, que rege tudo o que diz respeito aos Parques, Reservas e outras Áreas de Proteção Ambiental no Brasil, acabou de completar 25 anos em julho de 2025.  Essa Lei tem 13 objetivos. Um deles é “favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico”.

A Lei do SNUC divide as unidades de conservação em 12 categorias. Nessa toada, justamente a categoria Parque, na qual a Serra dos Teixeiras se encaixa, é a única que tem entre seus objetivos básicos “…a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de atividades….de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”. Para que o Parque gere emprego e renda no entorno, é fundamental que tenha boa estrutura de visitação, como mirantes, locais de acampamento e trilhas que permitam sua visitação. Minha visita ao Parque se encaixa nesse objetivo. Vim ministrar, junto com o ICMBio, um curso de planejamento, sinalização e implementação de trilhas no padrão da Rede Brasileira de Trilhas. Este é o primeiro passo para a estruturação da visitação no Parque Nacional da Serra dos Teixeiras.

. A Paraíba tem a maior trilha de longo curso do Nordeste que é o Caminho das Ararunas, com 155 km. O senhor estará em Araruna, vai conhecer um trecho?

– O Caminho das Ararunas é uma das trilhas mais bonitas do Nordeste e do Brasil. Por ela, é possível conhecer por dentro a Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. Com efeito, o Caminho das Ararunas foi a primeira trilha de longo curso a se estruturar no Nordeste. Por isso mesmo é referência hoje. Não há melhor lugar para sediar o primeiro Congresso Paraibano de Trilhas. Naturalmente vou conhecer pelo menos um de seus trechos. É inconcebível para mim vir à Paraíba e não trilhar o Caminho das Ararunas. Tenho certeza que vou amar.

. Estão sendo formatadas mais 7 trilhas na Paraíba, inclusive uma delas só por mulheres e para mulheres. Como vê esse interesse das pessoas e o crescimento dessa modalidade?

– Há uma grande demanda reprimida. Se a gente viajar pelo interior do Brasil, não importa o Estado, vai ver que, no fim da tarde, na periferia das cidades médias e pequenas, as pessoas estão saindo para caminhar com roupas de ginástica na última moda e tênis caros…no asfalto, na beira das rodovias. Em todos os lugares em que implementamos trilhas, Lorena, Silvânia, Ibiapaba, Taguatinga, entre outros, vimos a população imediatamente responder, com um significativo afluxo de visitação nos respectivos novos circuitos em contato com a natureza. É natural, caminhar em meio à natureza, à sombra das árvores, ouvindo o canto dos pássaros, é muito mais prazeroso que dividir espaço com a fumaça e barulho dos carros ,em um acostamento com o chão de asfalto e sem sombra. A demanda está posta pela cidadania. Cabe ao poder público implementar as trilhas que estão sendo demandadas. Com esses 7 projetos em curso, a Paraíba mostra que está atenta às reivindicações da população.

. Como será sua participação no Congresso Paraibano de Gestão de Trilhas de Longo Curso que acontece em Araruna, a nossa capital da aventura, de 19 a 21 deste mês?

– Representarei o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima no Congresso Paraibano de Trilhas. Vou apresentar a política pública para os congressistas e mostrar seus benefícios, tanto para o poder público, quanto para a iniciativa privada, quanto para os cidadãos e para o Meio Ambiente que, ao fim e ao cabo, são os os maiores beneficiários da Rede Brasileira de Trilhas.